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Uso da Eletroencefalografia em Psiquiatria

As novas tecnologias de imagem cerebral estão fornecendo dados estruturais e funcionais em pacientes com vários transtornos mentais. Essas modalidades de imagens incluem: Ressonância Magnética, Tomografia por emissão de Pósitrons e taxas metabólicas das regiões cerebrais por radioligantes a receptores de neurotransmissores; Tomografia Computadorizada por Emissão de Fótons, Ressonância Magnética Funcional, Magnetoencefalografia, Eletroencefalografia Quantitativa, Potenciais Evocados por Evento, Tomografia Eletromagnética de baixa resolução. Este conjunto de técnicas não invasivas de estudo da imagem e funções cerebrais têm contribuído no avanço do conhecimento das patologias mentais.
Condições como ansiedade, depressão, demência, distúrbio obsessivo-compulsivo, esquizofrenia, dificuldade de aprendizado, déficts de atenção com ou sem hiperatividade estão agora sendo compreendidos como resultado de interações entre perturbações neuroanatômicas e ambientais.
Aplicação no estudo de Demências
O EEG é particularmente efetivo, mas geralmente não realizado no estado de confusão mental (delirium). O aspecto mais marcante no delirium é a presença de ondas lentas no ritmo eletroencefalográfico que se correlaciona com o grau de comprometimento da perturbação. A única exceção é o deliruim tremens onde o ritmo eletroencefalográfico está acelerado. No caso do delirium em pacientes com síndrome neuroléptica maligna surge uma lentificação leve e difusa no traçado do EEG. Nas manifestações delirantes de origem orgânica os traçados típicos são as ondas lentas nos lobos temporais. Nas perturbações das funções cognitivas com prejuízo da memória constata-se uma relação direta entre o grau de anormalidade do traçado com a severidade da perturbação do comportamento. A demência multi-infarto é caracterizada por um traçado assimétrico, o que permite a diferenciação para a demência de Alzheimer. O EEG na psiquiatria tem sido mais usado para avaliar os casos de encefalopatia não resolvidos
.Nas psicoses
Vários estudos mostraram que o EEG encontra 20 a 60% de anormalidades em pacientes esquizofrênicos. O achado mais específico é a relativa lentificação da freqüência alfa. No entanto alguns pacientes mostram um ritmo alfa acelerado. Os pacientes catatônicos apresentam paroxismos no traçado. A presença de sintomas negativos se correlaciona com ondas delta nas áreas temporais.
Nos Transtornos do Humor

A incidência de EEG anormais nos pacientes com distúrbios do humor parece ser significativa, variando de 20 a 40%. Encontra-se mais correlação entre pacientes maníacos do que deprimidos, mais em mulheres bipolares do que em homens bipolares. Um sinal notado nesses casos, mas não aceito globalmente são as ondas pontas agudas e pequenas no traçado eletroencefalográfico. Este traçado geralmente é encontrado nos pacientes com mania. Vários estudos encontraram um aumento da freqüência das ondas alfa e teta em pacientes deprimidos. Os antidepressivos diminuem essa atividade. Outro achado freqüente é a assimetria entre os hemisférios, principalmente nas regiões anteriores, para os pacientes deprimidos.
Nos transtornos de ansiedade
No distúrbio de ansiedade, como o pânico, tem sido encontrado diminuição na atividade alfa e no distúrbio obsessivo-compulsivo, um aumento da atividade teta. Dentre os pacientes obsessivo-compulsivos delineou-se uma diferença entre os que respondiam aos antidepressivos serotonérgicos e os que não respondiam a essas medicações: no primeiro grupo constatou-se um aumento predominante das ondas alfa, e no segundo predomínio das ondas teta.
Nos pacientes com anorexia nervosa 60% apresentaram alteração do EEG, provavelmente por comprometimento do metabolismo cerebral. Aproximadamente 12% desses pacientes apresentavam paroxismos eletroencefalográficos
No Alcoolismo
Durante a intoxicação alcoólica observa-se um lentificação geral do EEG, com diminuição das ondas alfa e aumento das ondas teta. No alcoolismo crônico um aumento da atividade lenta é observado como nos casos de embriaguez aguda, especialmente nas áreas temporais.
Conclusão
Muitas tecnologias tanto médicas como não médicas foram consideradas ultrapassadas com o surgimento de métodos e aparelhos mais modernos. Foi assim entre o rádio e a televisão. Com o surgimento desta pensava-se que o rádio deixaria de existir, o que não ocorreu. O EEC passa, há alguns anos, como exame desnecessário, inespecífico e ultrapassado; contudo mais estudos revelam que este ainda é um exame útil. Tudo depende do quanto se estuda suas possibilidades e recursos. Como é o exame de função cerebral mais barato que há, não pode ser negligenciado, mais aproveitado.
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Última Atualização 29-10-2004
Referência Biblio.
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J Neuropsychiatry Clin Neurosci 11:190-208, May 1999
Uso da Eletroencefalografia em Psiquiatria