Anorexia Transtornos relacionados por semelhança ou classificação |
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O que é?
Essencialmente é o comportamento persistente que uma pessoa apresenta
em manter seu peso corporal abaixo dos níveis esperados para sua estatura,
juntamente a uma percepção distorcida quanto ao seu próprio
corpo, que leva o paciente a ver-se como "gordo". Apesar das pessoas
em volta notarem que o paciente está abaixo do peso, que está
magro ou muito magro, o paciente insiste em negar, em emagrecer e perder mais
peso. O funcionamento mental de uma forma geral está preservado, exceto
quanto a imagem que tem de si mesmo e o comportamento irracional de emagrecimento.
O paciente anorético costuma usar meios pouco usuais para emagrecer.
Além da dieta é capaz de submeter-se a exercícios físicos
intensos, induzir o vômito, jejuar, tomar diuréticos e usar laxantes.
Aos olhos de quem não conhece o problema é estranho como alguém
"normal" pode considerar-se acima do peso estando muito abaixo. Não
há explicação para o fenômeno mas deve ser levado
muito a sério pois 10% dos casos que requerem internação
para tratamento (em hostpital geral) morrem por inanição, suicídio
ou desequilíbrio dos componentes sanguíneos.
Como é o paciente com
anorexia?
O paciente anorético só se destaca pelo seu baixo peso. Isto significa
que no seu próprio ambiente as pessoas não notam que um determinado
colega está doente, pelo seu comportamento. Mas se forem juntos ao restaurante
ficará evidente que algo está errado. O paciente com anorexia
não considera seu comportamento errado, até recusa-se a ir ao
especialista ou tomar medicações. Como não se considera
doente é capaz de falar desembaraçadamente e convictamente para
os amigos, colegas e familiares que deve perder peso apesar de sua magreza.
No começo as pessoas podem até achar que é uma brincadeira,
mas a contínua perda de peso apesar da insistência dos outros em
convencer o paciente do contrário, faz soar o alarme. Aí os parentes
se assustam e recorrem ao profissional da saúde mental.
Os pacientes com anorexia podem desenvolver um paladar estranho ou estabelecer
rituais para a alimentação. Algumas vezes podem ser flagrados
comendo escondidos. Isto não invalida necessariamente o diagnóstico
embora seja uma atitude suspeita.
Depois de recuperado o próprio paciente, já com seu peso restabelecido
e com a recordação de tudo que se passou não sabe explicar
porque insistia em perder peso. Na maioria das vezes prefere não tocar
no assunto, mas o fato é que nem ele mesmo concorda com a conduta insistente
de emagrecer. Essa constatação no entanto não garante que
o episódio não volte a acontecer. Depois de recuperados esses
pacientes retornam a sua rotina podendo inclusive ficar acima do peso.
Há dois tipos de pacientes com anorexia. Aqueles que restringem a alimentação
e emagrecem e aqueles que têm episódios denominados binge. Nesses
episódios os pacientes comem descontroladamente até não
agüetarem mais e depois vomitam o que comeram. Às vezes a quantidade
ingerida foi tão grande que nem é necessário induzir o
próprio vômito: o próprio corpo se encarrega de eliminar
o conteúdo gástrico. Há casos raros de pacientes que rompem
o estômago de tanto comerem.
Qual o curso dessa patologia?
A idade média em que surge o problema são 17 anos. Encontramos
muitos primeiros episódios entre os 14 e os 18 anos. Dificilmente começa
depois dos 40 anos. Muitas vezes eventos negativos da vida da pessoa desencadeiam
a anorexia, como perda de emprego, mudança de cidade, etc. Não
podemos afirmar que os eventos negativos causem a doença, no máximo
só podemos dizer que o precipitam. Muitos pacientes têm apenas
um único episódio de anorexia na vida, outros apresentam mais
do que isso. Não temos por enquanto meios de saber se o problema voltará
ou não para cada paciente: sua recidiva é imprevisível.
Alguns podem passar anos em anorexia, numa forma que não seja incompatível
com a vida mas também sem restabelecer o peso ideal. Mantendo-se inclusive
a auto-imagem distorcida. A internação para a reposição
de nutrientes é recomendada quando os pacientes atingem um nível
crítico de risco para a própria saúde.
Sobre quem a anorexia
costuma incidir?
As mulheres são largamente mais acometidas pela anorexia, entre 90 e
95% dos casos são mulheres. A faixa etária mais comum é
a dos adultos jovens e adolescentes podendo atingir até a infância,
o que é bem menos comum. A anorexia é especialmente mais grave
na fase de crescimento porque pode comprometer o ganho esperado para a pessoa,
resultando numa estatura menor do que a que seria alcançada caso não
houvesse anorexia. Na fase de crescimento há uma necessidade maior de
ganho calórico: se isso não é obtido a pessoa cresce menos
do que cresceria com a alimentação normal. Caso o episódio
dure poucos meses o crescimento pode ser compensado. Sendo muito prolongado
impedirá o alcance da altura geneticamente determinada. Na população
geral a anorexia atinge aproximadamente 0,5%, mas suspeita-se que nos últimos
anos o número de casos de anorexia venha aumentando. Ainda é cedo
para se afirmar que isto se deva ao modelo de mulher magra como o mais atraente,
divulgado pela mídia, esta hipótese está sendo extensivamente
pesquisada. Para se confirmar se a incidência está crescendo são
necessários anos de estudo e acompanhamento da incidência, o que
significa um procedimento caro e demorado. Só depois de se confirmar
que o índice de anorexia está aumentando é que se poderá
pesquisar as possíveis causas envolvidas. Até bem pouco tempo
acreditava-se que a anorexia acontecia mais nas sociedades industrializadas.
Na verdade houve falta de estudos nas sociedades em desenvolvimento. Os primeiros
estudos nesse sentido começaram a ser feitos recentemente e constatou-se
que a anorexia está presente também nas populações
desfavorecidas e isoladas das propagandas do corpo magro.
Tratamento
O tratamento da anorexia continua sendo difícil. Não há
medicamentos específicos que restabeleçam a correta percepção
da imagem corporal ou desejo de perder peso. Por enquanto as medicações
têm sido paliativos. As mais recomendadas são os antidepressivos
tricíclicos (possuem como efeito colateral o ganho de peso). Os antidepressivos
inibidores da recaptação da serotonina têm sido estudados
mas devem ser usados com cuidado uma vez que podem contribuir com a redução
do apetite. É bom ressaltar que os pacientes com anorexia têm o
apetite normal, ou seja, sentem a mesma fome que qualquer pessoa. O problema
é que apesar da fome se recusam a comer. As psicoterapias podem e devem
ser usadas, tanto individuais como em grupo ou em família.A indicação
dependerá do profissional responsável. Por enquanto não
há uma técnica especialmente eficaz. Forçar a alimentação
não deve ser feita de forma rotineira. Só quando o nível
de desnutrição é ameaçador. Forçar alimentação
significa internar o paciente e fornecer alimentos líquidos através
de sonda naso-gástrica. Geralmente quando se chega a isso torna-se necessário
também conter (amarrar) o paciente no leito para que ele não retire
a sonda.
Última Atualização:
15-10-2004
Fontes Liv 01 Liv
14 Eur. Psychiatry 2001: 16, 232-8
The Prognostic Value of Initial EDI scores in Anorexia Nervosa
C. Bizeul